ENTRE “RAÇAS”, COTAS E ONGs: uma crítica do antirracismo social-liberal no Brasil
Opressão Racista. Classes Sociais. Antirracismo Social-Liberal. Rio Grande do Norte.
A partir da Marcha Zumbi Contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida em 20 de novembro de 1995, a luta contra o racismo no Brasil desenvolveu uma forma e conteúdo inéditos, em sintonia com a integração do Brasil no capitalismo globalizado e marcada pelas derrotas da classe trabalhadora diante dos governos neoliberais. Neste período de mudança qualitativa no antirracismo contemporâneo brasileiro, o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) reconheceu oficialmente a existência do racismo no Brasil, as ações afirmativas foram formuladas, as Organizações Não Governamentais (ONGs) assumiram protagonismo inédito e a categoria “raça” foi reabilitada nas pesquisas sobre desigualdades raciais num contexto de ascensão da teoria social pós-moderna. Este conjunto de determinações delineou uma estratégia antirracista contrarrevolucionária, a qual se nomeou nesta dissertação antirracismo social-liberal. Os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), de 2002 a 2016, executaram com relativo êxito esta estratégia por meio da promoção de políticas de igualdade racial. A crise política intensificada com o golpe jurídico parlamentar de 2016, no entanto, acelerou o processo de curto-circuito do antirracismo social-liberal e lhes abriu uma fissura através da qual a crítica marxista tem problematizado as noções/premissas de ancestralidade africana, política identitária, lugar de fala, anticomunismo e interseccionalidade. O exemplo histórico e atual do antirracismo no estado do Rio Grande do Norte (RN) pode contribuir para elucidar, a partir do conhecimento de suas particularidades, aspectos essenciais do desenvolvimento, consolidação e crise do antirracismo social-liberal no Brasil.