"Serão perfeitas donas de casa e distintas moças da sociedade": a Escola Doméstica em uma história da educação das sensibilidades feministas em Natal (1914-1945)
Escola Doméstica. História da educação feminina. Gênero. Sensibilidades. Análise do Discurso.
O objetivo dessa dissertação é compreender como os discursos desenvolvidos pela Escola Doméstica sobre a escolarização das mulheres produziram sensibilidades acerca da feminilidade. A Escola Doméstica foi uma instituição de Educação Doméstica, inaugurada em 1914 na cidade do Natal, no Rio Grande do Norte. Essa escola era destinada exclusivamente às mulheres após concluírem o Ensino Primário completo, sobretudo, as jovens da elite potiguar. Esse é um trabalho sobre a história da educação feminina, se enquadrando nos pressupostos da História Cultural e dialogando com os estudos de gênero, no intuito de perceber como as diferenças sexuais e de gênero são produzidas historicamente e discursivamente, a partir das abordagens de Judith Butler (2003) e Guacira Louro (2003; 2019), e o processo dessa prática de distinção na generificação do espaço escolar. Desse modo, entende-se a instituição escolar enquanto um dispositivo de poder que produz discursos sobre o corpo sexuado e institui práticas de disciplinamento sobre esse corpo estudantil, produzindo regimes de verdade sobre a feminilidade. Como metodologia, foi adotada a Análise do Discurso de inspiração nas obras de Michel Foucault (1999; 2008), para identificar os enunciados discursivos produzidos pela Escola Doméstica acerca das sensibilidades femininas. Dessa maneira, para atingir o objetivo proposto, primeiro, foi preciso diagnosticar as condições de possibilidade de emergência dos discursos sobre a escolarização feminina na Escola Doméstica. Segundo, identificar quais os conhecimentos articulados pela Educação Doméstica escolarizada enquanto parte de um projeto de associação entre a mulher e o lar. E, por fim, identificar os modos de subjetivação experimentados pelas alunas face ao projeto institucional de formação da “dona de casa cidadã”. Portanto, por meio dessa pesquisa, foram percebidas um conjunto de regularidades discursivas que produziam o efeito de um discurso verdadeiro sobre o feminino pela sua constante repetição. Os discursos produzidos pela Escola Doméstica acerca da feminilidade agiam através da mobilização dos conhecimentos domésticos a partir de uma lógica higienista, defendendo o lugar da mulher no lar, como protagonista desse espaço, agindo enquanto mãe, esposa e dona de casa.