Banca de QUALIFICAÇÃO: ANTONIO LUIZ DA SILVA

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : ANTONIO LUIZ DA SILVA
DATA : 19/06/2017
HORA: 14:00
LOCAL: Laboratório de Psicologia
TÍTULO:

MENINOS DANADOS E OUTROS ESTUDOS SOBRE A INFÂNCIA NO SERTÃO.
Etnografando a participação (política) das crianças em Catingueira - PB


PALAVRAS-CHAVES:

Crianças, Infâncias, Sertão, Participação, Geração.


PÁGINAS: 189
RESUMO:

O desenho que é feito do sertão tem se tornado cada vez mais problemático, quase a representação de um imaginário forasteiro, descontextualizado e a-histórico. Para expressividade humana produzida ao longo de séculos – pinturas, músicas, filmes, documentários, novelas, literaturas, cordéis, xilogravuras – o sertão é todo ele calcado na poética da boniteza da dor, a partir da qual se
alumiam exponencialmente o sofrer e o abandono, diminuindo-lhe as potencialidades. Nesse ideário
cultural, hegemonicamente masculinizado e adultocentrado, mesmo que possível, sobram poucos
lugares aos idosos e às mulheres. Nele, também, sorte um pouco mais complicada toca às crianças,
a quem, na reconhecida expressividade sertaneja, resta muito pouco ou quase nada, tais como os
relatos de meninos sem nomes, marcados pela forme, destinados a morrer. Entendo que essa
imagem distorcida do sertão e nele a inclusão das crianças precisam ser questionados no momento
contemporâneo. Se ele foi isso ou só isso, no momento, outras imagens podem ser contempladas. É
que, observando o referido território a partir de Catingueira – PB, contrariando o sutil ocultamente
imposto pelo imaginário social, tenho notado as crianças em toda parte, vivendo suas infâncias ao
redor do campo de futebol, na quadra, na igreja, no meio da rua, nas praça, na piscina pública, na
Fonte do Olho d’Água. Elas estão participando de discussões sobre variados temas, tomando parte
em protestos, campanhas políticas, procissões, mobilizações, festas. Estão agindo por meio das redes
sociais... De modo que, mesmo não sendo encontradas em conflitos com as leis ou envolvidas em
atos de baderna ou desobediência de natureza social, uma parcela da população adulta se incomoda
com sua vibrante e barulhenta presença, acusando-as de ‘danadas’. Para que direção esta acusação
está apontando? O que seria possível aprender com ela? Em minha compreensão inicial esta
expressão mostra uma forma de infância, vivida no sertão hodierno, onde crianças, diferente de
gerações anteriores, têm conquistado mais garantias constitucionais e, mesmo não sendo ouvidas e
contadas, estão participando dos destinos de seu município, a seu modo e em sua medida
etária/desenvolvimental. Aqui estou entendendo que todo ato de participação é um processo político.
É um modo do sujeito se afirmar no/e perante o mundo. Assim, para esta investigação, participar é
tanto ocupar quanto se expor. É fazer uso da voz, opinar, se manifestar, mas é também estar
presente, se fazer visto, quando se tem decretado, a priori, a invisibilidade geracional como
parâmetro. Por isso, com este trabalho viso elaborar uma etnografia inclusiva que, mesmo não
negando a existência de outros grupos geracionais, busque contemplar a presença e a participação
das crianças na vida ordinária catingueirense, desnudando, desencapando a infância vivida à
maneira sertaneja no momento contemporâneo. Descreverei algumas das formas mais comuns de
participação das crianças em Catingueira, mostrando-as como atores sociais e protagonistas
políticos da vida social. Desvelarei, ao longo da história recontada pela memória catingueirense,
como foi que as gerações mais velhas viveram a infância, e como a infância veio a se transformar
naquilo que ela é no presente municipal. E, considerando que minha pesquisa vem se dando num
território bastante reificado na imaginação nacional, buscarei, se não descontruir, ao menos levantar
algumas suspeitas sobre o pensar hegemônico, ao mostrar que o sertão, partindo de Catingueira,
não é somente aquilo que dele vem sendo mostrado pelo imaginário secular brasileiro, seguindo a
lógica de uma expressividade esturricada nas páginas do tempo. Aproveitando o ensejo, neste
trabalho pretendo ainda mostrar a vida dos pobres, sem enfeia-la, sem diminuí-la, esfumando-a na
vulnerabilidade elementar dos saberes pretendidos científicos neutros. Entendendo que esta
pesquisa, sendo feita num campo em que outras pesquisas já foram realizadas, desde os primórdios
dos anos 2000, seguindo inspiração etnográfica, se beneficiar de toda produção por lá empreendida.
Porém, terei como base experiências de campo realizadas no arco longo de (2012), 2014, 2015 e
2016, com visitas periódicas em tempos fortes tais como Festa do Padroeiro, João Pedro, Tempo
Comum, Carnaval, e Tempo da Política. Almejo que as reflexões feitas através de meu percurso
possam ser uma contribuição à metodologia de trabalho que busca incluir crianças. Do ponto de
vista teórico, me esforçarei para argumentar tanto de modo interdisciplinar ou multidisciplinar
quanto me aproximando do campo dos estudos da crianças e das infâncias. Dentro do acima referido
campo, assumo uma perspectiva mais histórica e ao mesmo tempo mais crítica da vida, da sociedade
e das realidades humanas. E, na condição de psicólogo, espero que este trabalho resulte num
contributo ao esforço que vem sendo realizado no campo do estudos da criança.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - FLÁVIA FERREIRA PIRES - UFRB
Presidente - 2177480 - HERCULANO RICARDO CAMPOS
Interno - 1205730 - ISABEL MARIA FARIAS FERNANDES DE OLIVEIRA
Externo ao Programa - 1196207 - RAQUEL FARIAS DINIZ
Notícia cadastrada em: 23/05/2017 08:18
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