LÉLIA GONZALEZ E A LUTA CONTRA A TRÍPLICE OPRESSÃO DE CLASSE, RAÇA E GÊNERO
Tríplice opressão. Racionalismo universal abstrato. Naturalização das opressões
Podemos identificar pontos de convergência entre as opressões de classe, raça e gênero? A partir dos estudos interseccionais da filósofa brasileira Lélia Gonzalez, buscamos analisar a tríplice opressão, uma releitura do conceito de tríplice discriminação proposto pela pensadora. O nosso objetivo é analisar as conexões entre essas três opressões, enquanto nos dedicamos a desvelar a essência desse complexo fenômeno. Ao nosso ver, o conceito aponta para uma estratégia que nos impede de superar as estruturas do sistema capitalista: a naturalização das opressões por meio do estabelecimento de um racionalismo universal abstrato. Fundamentamos a nossa investigação em sua obra Primavera para as Rosas Negras, uma compilação de artigos que abrange escritos da década de 1970 até 1990. Mediante uma abordagem analítica, procuramos não apenas explicar e interpretar as teses da autora, mas também estabelecer diálogos com outras/os pensadoras/es feministas, marxianas e decoloniais, optando por uma estrutura tripartida dos capítulos para captar os entrelaçamentos entre classe (capítulo 1), raça (capítulo 2) e gênero (capítulo 3). Para isso, discutimos, primeiro, o processo de marginalização dos corpos negros, como uma das mercadorias mais exploradas para acumulação primitiva em territórios com desenvolvimento desigual e combinado; em seguida, mostramos como o mito da democracia racial foi utilizado para mascarar a sobre-exploração e criar o “lugar natural” das pessoas negras; Por fim, destacamos que a tentativa de estabelecer a categoria universal de mulher resultou na marginalização das mulheres negras dentro do próprio movimento feminista.